Não se engane o leitor ao imaginar que o Paralamas deste título é aquele dos
veículos, que evitam salpicos de lama. Trata-se da banda carioca de rock, formada no final
da década de 70, que tem entre suas músicas letras com temas que falam sobre amor,
política, vovó Ondina e dessas coisas que valem a pena na vida. Todos temas louváveis, mas
diante do cenário nacional o que mais surpreende é a atualidade das letras políticas do
grupo.
Selvagem, música que deu nome ao
álbum de 1986, com a letra em itálico a seguir,
poderia ser fundo musical dos noticiários
nacionais desde a insurgência contra
supostamente apenas o aumento de R$0,20
centavos no transporte público. Alguns
telespectadores poderiam até querer suprimir os
comentários jornalísticos, preferindo a letra da
música, pela maior transparência.
Selvagem – 1986
A polícia apresenta suas armas
Escudos transparentes, cassetetes
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter tudo
Em seu lugar
O governo apresenta suas armas
Discurso reticente, novidade inconsistente
E a liberdade cai por terra
Aos pés de um filme de Godard
A cidade apresenta suas armas
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos
E o espanto está nos olhos de quem vê
O grande monstro a se criar
Os negros apresentam suas armas
As costas marcadas, as mãos calejadas
E a esperteza que só tem quem tá
Cansado de apanhar
Outra música que poderia ser
tema dos atuais noticiários é Luís Inácio –
300 picaretas, letra que pode ser
observada a seguir, em itálico. Na época em
que foi feita o Lula, Luís Inácio da música,
ainda não tinha chegado à presidência e
fazia parte da oposição. Todavia, já nesta
época, retrata a música, que Lula sabia
que os Poderes estavam repletos de
picaretas. Informação agora referendada
pelo Supremo Tribunal Federal, em Ação
Penal popularmente conhecida como caso
do Mensalão. A letra só poderia ser mais
atual se os sujeitos da 3o estrofe fossem
substituídos pelos réus do Mensalão.
Luís Inácio
(300 picaretas) - 1995
Luís Inácio
falou, Luís Inácio avisou
São
trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio
falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio
falou, Luís Inácio avisou
São
trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio
falou, Luís Inácio avisou
Eles
ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete
na verdade o sentimento da nação
É lobby, é
conchavo, é propina e jeton
Variações
do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é
uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade
que fabrica sua própria lei
Aonde se
vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa
palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar
muita gente pra pegar na saída
Pra fazer
justiça uma vez na vida
Eu me vali
deste discurso panfletário
Mas a minha
burrice faz aniversário
Ao permitir
que num país como o Brasil
Ainda se
obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par
se sapatos, um saco de farinha
A nossa
imensa massa de iletrados
Parabéns,
coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso
continua a serviço de vocês
Papai,
quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar,
renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse
dizer nomes, a canção era pequena
João Alves,
Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo
em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que
ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM
e de televisão
Rádio FM e
televisão
Existem diversas outras músicas
da banda, Paralamas do Sucesso, que
retratam, desde final da década de 70, até
hoje a situação do Brasil.
Neste momento em específico, diante da
condenação da cúpula que dirigia o PT, partido do
então Luís Inácio Lula da Silva, das alegações
estarrecedoras do ex-presidente, de que nada
sabia sobre esquema, e da atual situação da
Presidente Dilma Rousseff, tendo de lidar com
manifestações periódicas, também do PT e
apadrinhada de Lula, impossível não lembrar de
uma terceira música do Paralamas, Meu Erro, a seguir em itálico.
Meu Erro -
1984
Eu quis
dizer
Você não
quis escutar
Agora não
peça
Não me faça
promessas
Eu não
quero te ver
Nem quero
acreditar
Que vai ser
diferente
Que tudo
mudou
Você diz
não saber
O que houve
de errado
E o meu
erro foi crer que estar ao seu lado, bastaria
Ah meu Deus
era tudo o que eu queria
Eu dizia o
seu nome
Não, me abandone
Mesmo
querendo eu não vou me enganar
Eu conheço
os seus passos
Eu vejo os
seus erros
Não há nada
de novo
Ainda somos
iguais
Então não
me chame
Não olhe
pra trás
Esta música tem uma toada mais
amorosa, mas algumas frases parecem ter sido
feitas para Dilma e Lula, exemplo:
Dilma, para Lula: - Você diz não saber, o
que houve de errado, e o meu erro foi crer que
estar ao seu lado bastaria.
Não bastou a Presidente Dilma estar apoiada por Lula, ela foi e vem sendo alvo de muitas críticas, tendo de enfrentar grandes dificuldades em seu governo, especialmente no quesito, de menos importância para o País mas que parece ser o que mais incomoda, a
popularidade.
Considerando, a inteligência coletiva, expressa nas obras humanas,
principalmente nas artísticas, como nas músicas aqui expostas, e as notícias veiculadas em
nossos meios de comunicação; Poderia, ainda, o povo brasileiro agora erguer-se, para
assumir o erro, seja pela omissão ou vergonha de seus representantes políticos, e repetir
ao Poder, em voz alta, seja quem for que o dirige e em quantas esferas se divide, a última
estrofe da música. Mesmo, o povo brasileiro poderia dissociar-se de vez desse Poder
corrompido e, para variar, comprometer-se de vez em fazer um Brasil melhor, conforme
os ditames constitucionais sem deixar de fiscalizar seus eleitos.
Desta forma, talvez o brasileiro, um dia, não mereça mais ser retratado como na
música Perplexo, de 1989, que dita: Tentei te entender/ Você não soube explicar/ Fiz
questão de ir lá ver/ Não consegui enxergar/ Desempregado, despejado, sem ter onde cair
morto/ Endividado sem ter mais com que pagar/ Nesse país, nesse país, nesse país/ Que
alguém te disse que era nosso/ Ah, ah, ah, ah... Pois é, Paralamas avisou, canta no
microfone desde 70 e ainda foi ineficiente em comunicar ao povo o estado do País, mas
quem sabe não chegou a hora de escutarmos, vermos, sabermos o que acontece com o
Brasil.
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