sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Paralamas ineficiente



                    Não se engane o leitor ao imaginar que o Paralamas deste título é aquele dos veículos, que evitam salpicos de lama. Trata-se da banda carioca de rock, formada no final da década de 70, que tem entre suas músicas letras com temas que falam sobre amor, política, vovó Ondina e dessas coisas que valem a pena na vida. Todos temas louváveis, mas diante do cenário nacional o que mais surpreende é a atualidade das letras políticas do grupo.


                    Selvagem, música que deu nome ao álbum de 1986, com a letra em itálico a seguir, poderia ser fundo musical dos noticiários nacionais desde a insurgência contra supostamente apenas o aumento de R$0,20 centavos no transporte público. Alguns telespectadores poderiam até querer suprimir os comentários jornalísticos, preferindo a letra da música, pela maior transparência.

Selvagem – 1986 

A polícia apresenta suas armas
Escudos transparentes, cassetetes
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter tudo
Em seu lugar
O governo apresenta suas armas
Discurso reticente, novidade inconsistente
E a liberdade cai por terra
Aos pés de um filme de Godard
A cidade apresenta suas armas
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos
E o espanto está nos olhos de quem vê
O grande monstro a se criar
Os negros apresentam suas armas
As costas marcadas, as mãos calejadas
E a esperteza que só tem quem tá
Cansado de apanhar


                    Outra música que poderia ser tema dos atuais noticiários é Luís Inácio – 300 picaretas, letra que pode ser observada a seguir, em itálico. Na época em que foi feita o Lula, Luís Inácio da música, ainda não tinha chegado à presidência e fazia parte da oposição. Todavia, já nesta época, retrata a música, que Lula sabia que os Poderes estavam repletos de picaretas. Informação agora referendada pelo Supremo Tribunal Federal, em Ação Penal popularmente conhecida como caso do Mensalão. A letra só poderia ser mais atual se os sujeitos da 3o estrofe fossem substituídos pelos réus do Mensalão.

Luís Inácio (300 picaretas) - 1995

Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou

Eles ficaram ofendidos com a afirmação
Que reflete na verdade o sentimento da nação
É lobby, é conchavo, é propina e jeton
Variações do mesmo tema sem sair do tom
Brasília é uma ilha, eu falo porque eu sei
Uma cidade que fabrica sua própria lei
Aonde se vive mais ou menos como na Disneylândia
Se essa palhaçada fosse na Cinelândia
Ia juntar muita gente pra pegar na saída

Pra fazer justiça uma vez na vida
Eu me vali deste discurso panfletário
Mas a minha burrice faz aniversário
Ao permitir que num país como o Brasil
Ainda se obrigue a votar por qualquer trocado
Por um par se sapatos, um saco de farinha
A nossa imensa massa de iletrados
Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez
O congresso continua a serviço de vocês
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição
Se eu fosse dizer nomes, a canção era pequena
João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena
De exemplo em exemplo aprendemos a lição
Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão
De rádio FM e de televisão
Rádio FM e televisão


                    Existem diversas outras músicas da banda, Paralamas do Sucesso, que retratam, desde final da década de 70, até hoje a situação do Brasil.


                      Neste momento em específico, diante da condenação da cúpula que dirigia o PT, partido do então Luís Inácio Lula da Silva, das alegações estarrecedoras do ex-presidente, de que nada sabia sobre esquema, e da atual situação da Presidente Dilma Rousseff, tendo de lidar com manifestações periódicas, também do PT e apadrinhada de Lula, impossível não lembrar de uma terceira música do Paralamas, Meu Erro, a seguir em itálico. 

Meu Erro - 1984 

Eu quis dizer
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas
Eu não quero te ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer que estar ao seu lado, bastaria
Ah meu Deus era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não, me abandone

Mesmo querendo eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe pra trás


                    Esta música tem uma toada mais amorosa, mas algumas frases parecem ter sido feitas para Dilma e Lula, exemplo:

                    Dilma, para Lula: - Você diz não saber, o que houve de errado, e o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria.


                    Não bastou a Presidente Dilma estar apoiada por Lula, ela foi e vem sendo alvo de muitas críticas, tendo de enfrentar grandes dificuldades em seu governo, especialmente no quesito, de menos importância para o País mas que parece ser o que mais incomoda, a popularidade.

        Considerando, a inteligência coletiva, expressa nas obras humanas, principalmente nas artísticas, como nas músicas aqui expostas, e as notícias veiculadas em nossos meios de comunicação; Poderia, ainda, o povo brasileiro agora erguer-se, para assumir o erro, seja pela omissão ou vergonha de seus representantes políticos, e repetir ao Poder, em voz alta, seja quem for que o dirige e em quantas esferas se divide, a última estrofe da música. Mesmo, o povo brasileiro poderia dissociar-se de vez desse Poder corrompido e, para variar, comprometer-se de vez em fazer um Brasil melhor, conforme os ditames constitucionais sem deixar de fiscalizar seus eleitos.

                    Desta forma, talvez o brasileiro, um dia, não mereça mais ser retratado como na música Perplexo, de 1989, que dita: Tentei te entender/ Você não soube explicar/ Fiz questão de ir lá ver/ Não consegui enxergar/ Desempregado, despejado, sem ter onde cair morto/ Endividado sem ter mais com que pagar/ Nesse país, nesse país, nesse país/ Que alguém te disse que era nosso/ Ah, ah, ah, ah... Pois é, Paralamas avisou, canta no microfone desde 70 e ainda foi ineficiente em comunicar ao povo o estado do País, mas quem sabe não chegou a hora de escutarmos, vermos, sabermos o que acontece com o Brasil. 


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